Os Mortos Não Pesam Todos o Mesmo. Uma reflexão sobre atribuição de identidade política às ossadas da Vala de Perus

##plugins.themes.bootstrap3.article.main##

##plugins.themes.bootstrap3.article.sidebar##

Publicado 30-09-2019
Desirée de Lemos Azevedo

Resumen

Em 2014, foi criado no Brasil o Grupo de Trabalho Perus (GTP), uma equipe forense multidisciplinar dedicada à identificação dos remanescentes ósseos exumados, em 1990, da Vala de Perus. Por este nome, ficou conhecida a sepultura coletiva clandestina localizada no Cemitério Municipal Dom Bosco, no bairro de Perus, em São Paulo. Descoberta no final dos anos 1970, ela é a mais importante das valas comuns denunciadas como destino final de militantes desaparecidos pela Ditadura (1964-1985). É também a única a receber atenção científica e institucional. A partir de pesquisa etnográfica realizada junto ao GTP, este artigo analisa o processo de identificação posto em curso pela equipe, decompondo suas etapas, procedimentos, práticas e documentos. A partir dos dados apresentados, argumento que o objetivo da identificação é escrutinar o conjunto ósseo para dele destacar alguns corpos aos quais serão atribuídos identidade política. Discuto três aspectos do processo: a humanização dos remanescentes a partir de seu tratamento científico; a identificação como um processo classificatório; e a materialidade como geradora de verdades científicas relacionadas a processos de formação do Estado Nacional e de gestão de populações.

Abstract 830 | texto (Português (Portugal)) Downloads 337

##plugins.themes.bootstrap3.article.details##

References
Anstett, E., & Dreyfus, J.M. (2015). Introduction: why exhume? Why identify? Em E. Anstett & J.M. Dreyfus (Eds.). Human Remains and identification. Mass violence, genocide, and the "forensic turn" (pp. 1-13). Manchester: Manchester University Press.

Azevedo, D. (2018). Ausências Incorporadas. Etnografia entre Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil. São Paulo: Editora Unifesp.

Bevilaqua, C. (2010). Sobre a fabricação contextual de pessoas e coisas: as técnicas jurídicas e o estatuto do ser humano após a morte. Mana, 16(1), 7-29.

Bourdieu, P. (2006). A ilusão biográfica. Em M. Ferreira & J. Amado (Eds.), Usos e abusos da história oral (pp.183-192). Rio de Janeiro: FGV.

Bourdieu, P. (2011) Razões Práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus.

Butler, J. (2017). Marcos de Guerra. Quando a vida é passível de luto? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Carrara, S. (1984). A "Sciência e Doutrina da Identificação no Brasil" ou do Controle do Eu no Templo da Técnica. Boletim do Museu Nacional, 50, 1-26.

Castillejo Cuéllar, A. (2018). Del ahogado el sombrero, a manera de manifiesto: esbozos para una crítica al discurso transicional. Vibrant, 15(3), 1-16.

Corrêa, M. (2013). As ilusões da liberdade: Nina Rodrigues e a antropologia no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.

Crossland, Z. (2009). Acts of estrangement. The post-mortem making of self and other. Archaeological Dialogues, 16(1), 102-125.

Damatta, R. (1997). Carnavais, Malandros e Heróis. Para uma sociologia do dilema brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar Editores.

Das, V., & Poole, D. (2004). State and its margins. Em Anthropology in the Margins of the State (pp. 3-34). Santa Fe: School of American Research Press.

Douglas, M. (2010). Pureza e Perigo. São Paulo: Ed. Perspectiva.

Dziuban, Z. (2017). Introduction. Forensics in the Expanded Field. Em Z. Dziuban (Ed.). Mapping the 'Forensic Turn'. Engagements with Materialities of Mass Death in Holocaust Studies and Beyond (pp. 7-38). Viena: New Academic Press.

Ferrándiz, F., & Robben, A. (2015). Introduction: The Ethnography of Exhumations. Em F. Ferrándiz & A. Robben (Eds.). Necropolitics Mass Graves and Exhumations in the Age of Human Rights (pp. 1-38). Philadelphia: University of Pennsylvania Press.

Ferreira, L. (2007). Dos autos da cova rosa. A identificação de corpos não identificados no Instituto Médico Legal, 1942 a 1960 (Tesis doctoral inédita). Rio de Janeiro: Museu Nacional/PPGAS.

Fonseca, C., & Garrido, R. (2016). Os limites do humano: O agency (e complicações) de restos humanos em um laboratório de genética forense. Anais da 30ª Reunião Brasileira de Antropologia. João Pessoa, 3 a 6 de agosto de 2016.

Foucault, M. (1980). O Nascimento da Clínica. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária.

Foucault, M. (1999). Vigiar e Punir. Nascimento da Prisão. Petrópolis: Vozes.

Foucault, M.. (2007). A governamentalidade. Em Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Edições Graal.

Gatti, G. (2017). Prolegómeno. Para un concepto científico de desaparición. En G. Gatti (Ed.). Desapariciones: usos locales, circulaciones globales (pp. 13-32). Bogotá: Siglo del Hombre Editores.

Ginzburg, C. (1989). Sinais: Raízes de um paradigma indiciário. Em Mitos, emblemas e Sinais: Morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras.

Hattori, M. et al. (2015). O caminho burocrático da morte e a máquina de fazer desaparecer: propostas de análise da documentação do Instituto Médico Legal-SP para antropologia forense. São Paulo: Mimeo.

Latour, B., & Woolgar, S. (1997). A vida de laboratório: a produção dos fatos científicos. Rio de Janeiro: Relume Dumará.

Lefranc, S. (2017). Ejercer el oficio de especialista em justicia transicional Em G. Gatti (Ed.). Un mundo de víctimas (pp. 231-240). Barcelona: Anthropos Editorial.

Medeiros, F. (2012). "Matar o morto". A construção institucional de mortos no Instituto Médico-Legal do Rio de Janeiro (Tesis doctoral Inédita). ICHF, UFF, Niterói.

Moon, C. (2014). Human rights, human remains: forensic humanitarianism and the human rights of the dead. International Social Science Journal, 65(march-june), 49-63.

Peirano, M. (2006). A lógica múltipla dos documentos. Em M. Peirano (Ed.). A teoria vivida e outros ensaios de antropología (pp. 135-154). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

Rosenblatt, A. (2015). Digging for the Disappeared. Forensic Science after Atrocity. Stanford: Stanford University Press.

Stepputat, F. (2014). Introduction. Em F. Stepputat (Ed.). Governing the dead. Sovereignty and the politics of dead bodies (pp. 1-10). Manchester: Manchester University Press.

Torpey, J. (2006). Making whole what has been smashed: on reparation politics. Cambridge, Massachusetts, and London, England: Harvard University Press.

Verdery, K. (1999). The political lives of dead bodies. New York: Columbia University Press.

Wagner, S. (2008). To Know Where He Lies: DNA Technology and the Search for Srebrenica's Missing. Berkeley: University of California Press.
Sección
Artículos de investigación